2007 – Ano de demandas / maturação. Refletir e compartilhar. Durante o ano de 2007 o grupo opta por não realizar evento anual, mas sim, concentrar forças para uma auto- avaliação do processo até o momento, bem como representar e difundir as atividades realizadas para fora do circuito de São Paulo, apresentando-se em conferencias e oficinas por todo Brasil. Neste ano participamos do projeto
MIL971, um encontro de mais de 30 artistas que se juntaram para gerir uma semana de experiências em um estúdio fotográfico. O evento envolveu exposição de pintura, out-door, fotografia, festival de performance, performance sonora, vídeo- arte e conversas públicas. O EIA propos o Toró Imersivo, convidando os seres performáticos a compartilhar suas sonoridades e incorporar a pajelança.
2008- JOGO EIAComo resultado de um 2007 de reflexões, o EIA iniciou 2008 com a convicção de que era necessário repensar o formato de imergir na cidade. Seguir com a mesma dinâmica seria uma clara cristalização de formato, que se cega às potencialidades do encontro criativo entre coletivos e comunidades que dão ao espaço público direções, essências e atribuições que de fato respeitam o presente como espaço de liberdade e reconfigurações inesgotáveis.
A opção por se fazer um JOGO surge da percepção de que o mais rico do EIA é a convivência entre pessoas de diversas cidades brasileiras, com as mais variadas trajetórias artísticas, políticas, amorosas e territoriais. Quando indivíduos e coletivos chegam em São Paulo com seus projetos de intervenção prontos, como aconteceu desde 2004, perde-se a potência de um processo de colaboração criativa mais intenso e mais contextualizado com os territórios levantados para se realizar as intervenções.
É claro que, em 2006, quando passamos a apresentar aos interessados um mapeamento dos locais onde faríamos ações durante a semana, os projetos ganharam mais abertura para um diálogo com as comunidades. Entretanto, o diálogo entre coletivos/ artistas não era bem
aproveitado. Além disso, os participantes do EIA que constroem a Experiência Imersiva Ambiental ao longo do ano, sentiram que durante a semana de imersão ficou difícil dividir as tarefas e principalmente as responsabilidades. Eram muitos projetos, que demandavam um tipo de produção com horários, materiais, programação, divulgação, deslocamentos e ligações telefônicas que, em última análise, acabava por limitar o intercâmbio entre os artistas, deixando as pessoas de São Paulo sobrecarregadas e exercendo um papel de "produtor de
evento".
Convictos de que nosso horizonte é caminhar cada vez mais para a organização rizomática, em que as informações e atribuições possam fluir igualmente entre todos, com o foco na rua, na imersão, no convívio, no coletivo e na autoria compartilhada, resolvemos abolir a idéia de envio de projetos. A relação intensamente horizontal, a abertura a todos os que chegam, a indeterminação do processo, a paixão pela experiência, a solidariedade na ação, enfim, coisas que representam uma outra forma de organizar. O EIA é um processo e uma vivência, na qual o saber sobre a cidade, o outro, a arte, se constrói, aberta ao acaso, ao desejo, à idéia.
No início do ano de 2008 declaramos iniciado o JOGO, reforçando nosso foco noprocesso. Cada reunião, cada articulação, cada idéia, tudo é considerado parte do JOGO. Desde janeiro passamos a nos encontrar semanalmente e a delinear o que seria o tabuleiro urbano. Junto a esse planejamento, o EIA tinha uma necessidade grande de organizar sua história. São milhares de fotos, muitos vídeos não editados, textos e uma rede de coletivos e indivíduos espalhada pelo Brasil e América Latina. Até então, esses materiais encontravam-se nos muitos blogs que fizemos e, principalmente, em muitos hard drives dos participantes. Optamos por elaborar com a Coopperativa Laudelina um site com uma interface mais dinâmica e participativa, fundada no software livre adotando o WIKI como ferramenta para organizarmos nossa história. Atualmente estamos migrando o conteúdo. A opção pelo software livre e pela edição coletiva nos pareceu mais coerente com o processo criativo do EIA.
Em setembro, fizemos os debates públicos no Centro Cultural São Paulo. Foi mais uma etapa do JOGO, em que os debatedores eram encarados como jogadores-asterisco, por trazer para a elaboração do tabuleiro urbano, onde nos propusemos imergir, pesquisas e vivências cotidianas na cidade que estão em sintonia com as preocupações dos jogadores. Foram mote dos debates: Ambientes Virtuais e Campo de Imersão; Percurso dos Resíduos; Locomoção pelo ½ Fio; Artistas do Mundo, Onívoros; e um reencontro com os coletivos que atuaram na ocupação Prestes Maia. Os jogadores-asteriscos aprofundaram temas que nos deram idéias sobre percursos e práticas para a semana de imersão e nos permitiu um espaço para a crítica, reflexão, vivência multidisciplinar e partilha entre as redes com as quais tecemos. Os debates também foram um momento mais específico de chamar novas pessoas para participar do processo, que se constitui sobretudo "por afinidade" entre as pessoas.
Acreditamos que o formato de JOGO trouxe em seu cerne a necessidade de entrega, espírito lúdico, confiança na nossa regra número 1, que é "Todas as regras podem mudar" e desapego aos limites, regras e configurações da sociedade urbana. A estratégia encontrada para que os
jogadores participem do EIA em 2008, com uma presença inocente, refrescada e desejante por criar e transformar junto, foi a idéia de que cada pessoa trouxesse uma mochila com "elementos", que são materiais, poéticas e interesses de cada um. É a partir da articulação
dos conteúdos das mochilas e do mapeamento dos territórios anfitriões que o jogo de criar junto deve acontecer. Estas mochilas vão se intercambiar entre os jogadores, fortalecendo não apenas o fazer junto, mas o fazer com o repertório do outro e a troca com os anfitriões nos territórios. Entretanto, nada está pronto. São apenas peças para o tabuleiro urbano, e que pela forma como forem pensadas e apropriadas permitirão a criação de situações de resistência aos
paradigmas ambientais-políticos-sociais da contemporaneidade, ao buscar um lugar de expressão que requer o outro, requer o corpo e a presença e percepção sobre o lugar onde se está.
Envolvidos pela convicção de que a configuração de corpo-outro-espaço pode, ainda que sutilmente, alterar a subjetividade da experiência política e criativa da cidade, entendida aqui como um acontecimento vivo e transmutável, entendida como ambiente, o EIA não apenas quis potencializar a criação entre jogadores, mas também com os lugares onde vamos imergir. Para tanto, escolhemos XX territórios anfitriões. Tratam-se de lugares onde conhecemos jogadores residentes e mediadores que apresentam a comunidade, com seus cantos, centros, histórias, problemas. Embora o JOGO tenha como um de seus eixos o acaso, não vamos nos submeter a ele, pois existem alguns direcionamentos e interesses que nos movem. Mas o modo de construir esses direcionamentos importa muito, através de processos coletivos presenciais e integrados em rede, em relações que vão se construindo nos territórios, em contribuições que novos jogadores continuamente agregam. Esses direcionamentos são tanto uma intuição que se descobre em processo, quanto são resultado de intensa colaboração entre os jogadores.
Os territórios-anfitriões são: Morro do Querosene, Grajaú, Itapecerica da Serra, Sé/ Luz e Vila Sabrina. Ao longo do segundo semestre organizamos expedições para esses lugares e reuniões com seus moradores. Cada território demanda um tipo de parceria, de negociação, o que, conseqüentemente gera um tipo de idéia de percurso para o jogo, que é construído com os jogadores residentes e não- residentes. Muitos dos jogadores-asterisco, ou debatedores, também participam desta etapa ou abrindo um território ou propondo oficinas ou participando como mais um jogador. O JOGO aconteceu entre 05 e 14 de dezembro e os seus desdobramentos ainda não finalizaram. o EIA está aos poucos tornando disponivel os relatos e registros da Semana Imersiva no blog
http://mapeia.wordpress.com